terça-feira, 13 de julho de 2010

O Cisne Dunga e a Imprensa Raivosa no duelo da Copa 2010

Esta não é um post sobre o certo ou errado. Do bom contra o mau. Tampouco do mau contra o bom. Não é um julgamento de valor. Não é uma versão definitiva. Não é uma avaliação científica. É um post sobre o que eu vi, percebi e avaliei sobre a Copa do Mundo e a relação quase dramática que se colocou entre a imprensa e a seleção brasileira de futebol. Especificamente entre a imprensa e Dunga. Porque eu escrevo sobre este tema tão batido e rebatido nos últimos anos e agudizado após o jogo contra a Holanda? Porque sou torcedora e não abro mão de dar minha versão. Uma das 190 milhões. Porque sou jornalista e não abro mão de fornecer minha versão. Ela não é uma versão de uma jornalista na ativa porque eu teria que apurar muitos fatos para fazer o que é a função primordial de quem trabalha com jornalismo: dar informações concretas, despidas de sentimentos, o mais seca e precisa possíveis. Deixar ali, impressas ou publicadas, como um manjar para que o leitor se sirva e dali, a partir de suas convicções de vida, de fé, de gosto, de educação, de preconceito e conceitos, tire as suas próprias conclusões. Este é o papel, ser o vetor, nunca o sintoma.
Mas não foi isso que eu vi na maioria da cobertura da Copa de 2010, especialmente em relação à seleção brasileira. Eu me acostumei a achar que o jornalismo era isso que eu descrevi aí em cima. Mas o que vi foi um monte de jornalistas e repórteres cobrindo o evento como se fossem cronistas e colunistas. Estes, sim, por definição, historicamente defendem pontos de vistas claramente pessoais. Mas no caso da cobertura jornalística há que prevalecer a integridade gelada da informação ou vamos ter um festival – como tivemos – de passionais jornalistas vociferando informações sempre mais e mais irônicas e raivosas. E o alvo desse descompasso era um cara chamado Dunga.


Dunga representou para o Brasil, nesta Copa, o Patinho Feio que queria ser Cisne e isso era proibido. Primeiro por ele mesmo que transformou sua personalidade irascível num escudo que catapultava de volta para as câmeras, como pedras de bílis, toda e qualquer pergunta, por mais inocente que fosse. Murmurando palavrões entre dentes, usando todas as “armas” que podia usar: caretas, respostas irônicas, restrições de entrevistas exclusivas. Dunga é definitivamente um cara difícil. Mas a imprensa é definitivamente um algoz que pode ser insuportável, especialmente se a cobertura envolve a passionalidade do futebol, um esporte que “desorienta” a todos os brasileiros. Culpa de Pelé e sua turma, claro. Inventaram aquela seleção maravilhosa de 70 e os outros que carreguem o carma agora.
Com as honrosas exceções existentes o que vimos nesta Copa?


Eu vi muitos e excelentes jornalistas fazendo o trabalho deles muito bem!! Mas não foi a maioria.


E vi outros se deixando levar pela passionalidade. Vi outros repetindo jargões insuportáveis (como o Falcão e o Casagrande que só repetem frases feitas de botequins). Ah, ops, esqueci que não são jornalistas... é que nessa de não diploma a gente vai se enganando.
Faltou "Genetons" na Copa na mesma proporção que faltou sorte naquele chute de Dunga/Kaká no jogo contra a Holanda. O Brasil não tinha um time brilhante? Pois eu considero que o primeiro tempo contra a Holanda como um dos melhores 45 minutos de toda a Copa. O time do Dunga era equilibradíssimo sim (o que ele sempre disse ser o forte do time que montou). Ele tinha a melhor defesa do mundo, um meio de campo onde o Gilberto Silva jogou sim uma bela Copa, e Elano esteve muito bem (fez 2 gols belíssimos) e o cara/Kaká "bichado" tinha feito assistências para 70% dos gols (e quase todos em belíssimas jogadas...). O Ramires entrou e jogou muito bem! Além disso, um ataque de respeito que também marcou. Quase todos os gols brasileiros foram de grande consistência técnica e tática: triangulações com refino técnico e movimentações táticas. Jogadas ensaiadas (gol do Juan). Não foram gols de um amontoado de caras. De caneladas. Não tinha gordos no time. Até a mão do L. Fabiano teve um quê de plástica que lhe garantiu o perdão. Mas ninguém reconhece isso. O Elano era tratado como escória até se machucar e virar vítima. A televisão “entrega” demais. A cara de desdém dos apresentadores e comentaristas era incrível! Mas ele levou uma canelada dolorida e aí caímos na nossa incorrigível culpa cristã arrastados pela pena e ele vira quase o "mártir". Até lembraram que vinha fazendo boa Copa!! Vou lhes dizer: o Dunga fez sim do limão uma limonada. Mas ela não teve sorte. O gol não impedido do Daniel Alves e a defesa salvadora do goleiro holandês no chute de Kaká não nos permitiram ver mais... O que seria? Não sei. O Felipe Melo é um desorientado? É? Precisamos de culpados? Não. E o bom moço Leonardo no Tab Ramos? Lembra-nos algo? Ainda assim ganhamos...


E o Dunga? Como pode realmente alguém amar odiar como disse o bom texto do Aydano? Olha, acho que está na genética dele. Mas você já viu alguém acuado (e com a genética dele) não atacar? Não justifica, claro. Faltou psicólogo para o cara. Faltou um amigo para orientar. Faltou rezar, sei lá. Faltou educação! Mas, olha...esse cargo de treinador da seleção brasileira é um lugar de hospício. Os caras enlouquecem. O Zagalo mandou todo mundo engoli-lo. O Parreira não para de falar "mano" até hoje, com um tique na boca; o Luxemburgo se instalou num pedestal e briga até com a sombra; o Falcão nunca mais treinou nada; o Felipão (foi como no filme de Woody Allen, Matchpoint! A bola caiu do lado de lá da rede, na quadra do adversário) teve sorte. Caso contrário, iam crucificá-lo em praça pública pelo Ronaldo parado há mais de 1 ano... O Romário ia voltar das trevas se ele perde 2002. Ia ser o Ganso da vez. O Telê.... o que aconteceu mesmo com o Telê? Ah virou o "quase". Tinha a seleção "princesa" que nunca chegava lá. O Lazaroni até hoje parece que viu fantasma e nunca mais se firmou em clube grande. Acho que nem nos pequenos... Será que onde senta técnico da seleção brasileira nunca mais nasce grama?? Hahaha.


Olha... isto é conversa para muito tempo. Para eras. Séculos.

Do outro lado, para mim a imprensa foi para a África com cabeça de Weggis. Dizer que a seleção ser desclassificada foi um serviço para as próximas gerações de futebol? Ah, peloamordedeus... então podemos dizer o mesmo do incensado 84? Por sinal, um time muito inferior ao deste ano? Em 2010 a cantada Alemanha ficou pelo caminho e a Holanda quase arrancou o fígado dos espanhóis na final. Aliás, espanhóis que penteiam, penteiam e só fazem o gol porque uma hora o adversário falha depois que eles furam algumas vezes o alvo: a bola. Mérito deles. Mas a sorte ajudou não é mesmo? Pior ataque campeão mundial. Vá entender... A Suiça que o diga. Honduras idem. Chile também...O jogo bonito incensado da Espanha foi mais sortudo que bonito.


Olhando a final ontem eu tenho certeza que mesmo o nosso time C - na visão da imprensa - que estava lá na África, ganharia. No entanto nosso complexo de viralatas aflorou. Foi um tal de nada presta, tudo errado, começar do zero, Dunga isto, Kaká aquilo, Felipe Melo, doido. Não suporto essa coisa polarizada de tudo não presta ou tudo é maravilhoso.
Bem, muitas vezes tanto nós jornalistas quanto eles, no palco, não aguentamos a pressão. Alguns porque não estão preparados. Por sinal, a maioria. Jornalistas e Jogadores. A gente - estou me incluindo de propósito - fica aqui analisando os anéis, os brincos, a voz do cara, a profissão da mãe, o português, a namorada, e esquece de informar, com o máximo de honestidade e clareza, os fatos. O que quer dizer: apurar e informar. Viraram todos analistas e cronistas. É opinião em cima de opinião. A reportagem, o levantamento de fatos não teve espaço, perceberam? Teve um monte de jornalistas fazendo matérias a partir de suas opiniões. Foi m filme Classe B que nem Roger Corman gostaria de dirigir. Ficou um filme monótono, sem mocinhos para desafiar bandidos. Talvez eu esteja sendo muito crítica mas essa foi a minha visão. Em resumo: um cara mal educado, acuado e cheio de bílis para dar, de um lado. Do outro, uma imprensa revanchista e sem bom senso, atropelada pela sua passionalidade e atingida no seu ego pelo tal brucutu treinador e vociferante defensor de seus métodos. No meio: uma paixão incontrolável pelo futebol que não respeita nem mesmo o fundamental para se exercer esta nossa profissão: integridade intelectual para os jornalistas (exceções sempre mantidas) e educação de um cara que ficou com a chave da porta do tesouro nacional e inventou que só abria depois que virasse Cisne.
Faltou psicólogo para o Dunga, sorte para a seleção e uma boa dose de simancol para a imprensa. Resultado: ficamos sem entrar na sala para ver o tesouro com o qual sonhamos de quatro em quatro anos, aconteça o que acontecer.


Como diria Paul Valery, precisaríamos de 50 anos afastados deste momento para saber quem pisou demais no freio. Ou no acelerador. Se o Dunga com sua verve pesada e dolorida da vida a blasfemar pelos microfones mundo afora ou se a imprensa com seu nem sempre disfarçado ego, comendo-se de rancor quando atingida no que acredita ser seu terreno intocável. Sim, digo acredita é porque, como tantos estudiosos já disseram, sob o argumento e missão de informar, muitas vezes vamos (e levamos) os nossos temas, as nossas pautas, a um limite que talvez seja exagerado. Nem a um nem a outro. Pronto, agora a culpada sou eu. Mas onde eu sento nasce grama ok?