domingo, 1 de julho de 2012

#seedorfnofogao: torcida alvinegra mostra estilo


Números também mostram paixão. Ontem o Botafogo anunciou a contratação do craque Clarence Seedorf e nós, apaixonados alvinegros, respondemos com alegria nas redes sociais.

Fui olhar hoje em algumas ferramentas que usamos para clientes e vou dar aqui uma degustação da felicidade alvinegra com a chegada do craque à Estrela Solitária. O mapeamento completo eu mostro no dia da apresentação de Seedorf à torcida. Prometo!

Analisando apenas os recentes 1.500 tweets postados no microblog  - e que usaram a hashtag #seedorfnofogao -  tivemos 2,7 milhões de exposição com alcance (perfis únicos de usuários) de 2,3 milhões. @lapena foi o botafoguense com maior exposição. @botafogonews teve o post mais retuitado e mais mencionado.  A apresentadora da Globo, Carla Vilhena ( @carlavilhenaa) também gerou muita exposição ao tema. Interessante é que hoje, domingo, o perfil @fogoeterno que não tem tantos seguidores (1.107) é o mais retuitado do dia (até agora) mostrando que inteligência pode gerar relevância e engajamento (ele relacionou a chegada de Seedorf com o prêmio que o Rio recebeu hoje):

@fogoeterno: Contratação de Seedorf faz Rio de Janeiro receber título de Patrimônio Cultural da Humanidade. #seedorfnofogão

O exemplo do @fogoeterno é bom para mostrar que nem sempre quantidade (número de seguidores, por exemplo) é qualidade. E é uma boa analogia para a torcida da Estrela Solitária mais conhecida pela qualidade das suas reflexões do que pelo número presente no Engenhão.

Lembrando que a hashtag ficou nos Trending Topics do Twitter por várias horas tanto ontem quanto hoje.

Naturalmente houve também muitos perfis de torcidas adversárias que foram mais na linha do deboche e que - agradecemos - fizeram o tema viajar nas redes. Mas, nenhuma delas conseguiu ter a expressão dos perfis de torcedores do Fogão!

Aguardem a análise completa e verão como a nossa “van” é maior do que se pensa no mundo virtual e mantem a qualidade do mundo real: é qualitativa! ;)

domingo, 20 de maio de 2012

Olympia – aos pés de seus 100 anos


Não seria certo lembrar do histórico Cinema Olympia sem antes passar pelas minhas mais incríveis memórias de adoradora de cinema criada nas raízes do “Bandeirantes”, o cineminha  caseiro de Pedro Veriano e que era um verdadeiro cine-clube. Ainda estava catando pedaços para me entender no final da primeira infância e lá vinham aquelas férias em Belém, numa linda casa com um jardim gigante com dois chafarizes deslumbrantes, um monte de quartos, 3 andares, uma piscina  e... o Bandeirantes. Foi onde vi e revi tantos filmes de Carlitos e aprendi a me ajoelhar para o fervor de Pedro Veriano e da família pela “Felicidade Não se Compra”, de Frank Capra.

Daí em diante caí numa maravilhosa armadilha cinematográfica para – graças a Deus – nunca mais sair. Foi – junto com a poesia descoberta com os amigos de jornalismo – o que delineou minha busca pela integridade intelectual, tantas decisões profissionais, tantas buscas por ser uma pessoa melhor (ainda em vigência frenética! ;-). Tantos Fellini, Bergman, Scorsese, Trauffaut, Hitchcock, Chaplin, não atravessam sua vida sem deixá-la melhor.  Foi o Bandeirantes e a Família Miranda e Veriano, que determinaram isso. E daí em diante foi muito natural que o Olympia passasse a ser um lugar indispensável onde cruzei a vida a partir da minha adolescência - em Belém - aprendendo vida com os filmes que ali passavam.

Mas talvez a maior aproximação que tive com o Olympia -  que agora faz gloriosos 100 anos - foi quando tive um arroubo (diga-se, com cúmplices queridos da TV Cultura do Pará, de Pedro Veriano e de Luzia Miranda Álvares): fazer um vídeo  documentário sobre o cinema, sua história e, vejam só, não apenas da trajetória da sala de projeção. Algo mais que mostrasse o quanto de comportamento da cidade tinha passado por ali, especialmente no início do século.

Foi um arroubo porque eu tinha muito pouca experiência em vídeo, começava minha carreira na televisão (TV Cultura do Pará). Era um impulso ensandecido muito mais com aqueles anos todos de teoria de cinema - que vinham lá do Bandeirantes e dos enormes livros que Luzia Miranda me alimentava todo mês -, do que  propriamente de  algum talento já comprovado para a profissão. Mas ser abusada sempre foi uma característica minha. E lá fui eu com um roteiro na mão, cinegrafistas do lado, atores, um monte de histórias pesquisadas e... tantos cúmplices!.

Qualquer olhar crítico sabe que vídeo é hoje a prova da minha inexperiência com o formato. E também a prova de que o amor pelo cinema pode perdoar tanta ousadia para transformá-lo em uma pequena peça do registro histórico de um lugar tão especial para o cinema no Pará e, claro, no Brasil. Isto me deixa feliz. Mas, feliz mesmo fico porque as pessoas podem entender o que eu entendi quando pesquisei para fazer o roteiro do vídeo documentário: o Olympia era um retrato completo, pronto e maravilhoso do auge da sociedade paraense do século passado. Um mini universo completo sobre o ecossitema não apenas cultural mas também social. Sua programação , suas cadeiras invertidas, o tipo de freqüentador que ali ia, os encontros que se davam em seus salões, tudo é história paraense legítima. Vai além do cinema, além de nós. É história pura de como fomos no século passado. Fico feliz que minha ousadia juvenil seja hoje um recorte histórico – que sempre olho com muito rigor crítico no formato usado – do Olympia. Ele também é parte da minha vida, treinou meus olhos para tantos outros projetos. Inclusive, a maioria, que extrapolaram o cinema.

Afinal, veio do cinema tanto aprendizado que tive e tenho, tanta vontade de conhecer o mundo, de tentar ser um pouquinho aqueles gênios que desfilaram por ali – na tela ou na sua platéia. Tanto que tenho a ousadia de pensar hoje que efetivamente consegui ser uma pessoa um pouco melhor por ter vivido aqueles divertidos dias do Olympia.

Olympia, 100 ano! Vida Longa ao Olympia!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Singularity University: conheça as pessoas que constroem nosso futuro

(Matéria original publicada no jornal The Guardian - Link: http://www.guardian.co.uk/technology/2012/apr/29/singularity-university-technology-future-thinkers )
Pegue os principais pensadores do Vale do Silício e da ciência, misture com cientistas, inovadores e capitalistas filantropos, e você terá a Singularity University – com a missão de buscar soluções tecnológicas para os grandes desafios do mundo.
Astronauta Peter Diamandis, cofundador da Singularity University. Foto: Andrew Brusso/ Andrew Brusso/Corbis
É o primeiro dia na Singularity University: o discurso de abertura acabou de ser dado por um holograma. Craig Venter, um dos primeiros cientistas a sequenciar o genoma humano e criador da primeira forma de vida sintética, vem em seguida. Mais tarde, veremos duas pessoas, paralisadas da cintura para baixo, usar exoesqueletos robóticos para se levantar e andar.
No entanto, primeiro Peter Diamandis, cofundador da Singularity University, dará nossas instruções para o dia. Sua tarefa, diz, é escolher um dos “grandes desafios da humanidade” – a falta de água limpa para beber, por exemplo, e elaborar uma ideia que “possa afetar positivamente a vida de um bilhão de pessoas.”
São 9h30. Alguns de nós nem tomaram café. Há cerca de 50 pessoas presentes e a sala foi dividida em mesas, uma para educação, outra para pobreza, mais uma para água, e não sei onde devo me sentar. Diane Murphy, executiva de RP da universidade, hesita por um momento e, então, conduz-me para a mesa marcada "comida". “Olha só”, diz. “Por que você não pega a cadeira do Ashton Kutcher? Ele só vai chegar mais tarde” (quando ele chega, pega uma cadeira na outra mesa. O que posso dizer? Se Ashton Kutcher não conseguir solucionar a fome no mundo, será minha culpa).
A Singularity University não é muito como uma universidade normal, e não porque é um lugar que consegue acomodar tanto quanto Kutcher (e onde, durante uma sessão de perguntas e respostas, alguém questiona sobre levar a Singularity University para o gueto – esse alguém é o músico will.i.am).
Seus cursos não são credenciados e ela não tem graduandos. A Universidade Stanford pode ter sido o berço de centenas de startups do Vale do Silício e o epicentro de algumas de suas maiores inovações técnicas, mas a Singularity University é uma instituição feita à própria imagem do vale: com uma ampla rede, movimentada por um coquetel de capitalismo filantrópico e com uma noção quase mística de seu próprio destino.
É o grupo de pensadores de elite do futuro do Vale do Silício e seu braço de alcance global: Google e Microsoft vieram para a conferência de fundação e deram dinheiro, a Nasa forneceu espaço no campus e no website há uma citação de Larry Page, cofundador do Google: "Se eu fosse estudante”, diz, “é aqui que gostaria de estar”. Seu objetivo é “formar, educar e inspirar uma nova geração de líderes que lutam para entender e utilizar tecnologias cada vez mais avançadas para enfrentar os grandes desafios da humanidade.”
Portanto, não há pressão alguma, embora, claro, a coisa mais fácil a fazer seria ignorar isso. Ashton Kutcher! (Mais tarde, leio que ele foi chamado para o papel de Steve Jobs em um filme e tenho uma leve suspeita de que ache que realmente seja Steve Jobs). Um bilhão de pessoas! É o tipo de coisa em que imaginamos alguém de jaleco branco escrevendo como evidências pouco antes de decidir nos internar. Além disso, Diamandis é o tipo de empreendedor otimista que, como uma nação, estamos inclinados a ridicularizar e evitar (é amigo de Richard Branson).
O único problema com isso como estratégia é que metade das pessoas na sala realmente fez coisas que tiveram impacto positivo sobre um bilhão de pessoas – ou, em alguns casos, até mais. Não apenas Venter, que veio em seu jato particular; há também Vint Cerf, considerado um dos pais da internet – trabalhou na Arpanet, antecessora da Internet – e agora é o "principal pregador da Internet" no Google. E Sebastian Thrun, o homem por trás de uma das tecnologias mais recentes e potencialmente mais perturbadoras do Google, o carro que dirige sem motorista. Também é chefe do supersecreto laboratório X do Google, parte da empresa que a maioria dos funcionários nem sabia que existia até o New York Times fazer uma matéria sobre ela em novembro.
Também há Elon Musk, cofundador do PayPal e da Tesla Motors, que criou o primeiro carro elétrico do mundo e está trabalhando em um substituto para o ônibus espacial. Na plateia estão Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, e Troy Carter, estrategista de Lady Gaga. Mais tarde, Buzz Aldrin aparece. Aqui, ele é uma verdadeira celebridade. Todos os cientistas querem tirar fotos com ele, e até Kutcher parece um pouco acanhado. "O que acha da Singularity University?" pergunto a Aldrin. "Sou bastante exigente comigo mesmo”, afirma, “mas venho aqui e penso ‘Deus, tenho de fazer melhor’.”

Cheio de estrelas

Apesar das poucas conquistas de Aldrin – o segundo homem a pisar na Lua, 66 missões durante a Guerra da Coreia, dueto com o rapper Snoop Dogg – ele tem razão. A proposta da Singularity University e sua ideologia fundamental se baseiam em fazer melhor. Sua crença no progresso é tão tecnológica que, às vezes, tem um quê retrofuturista dos anos 50, de carros voadores e mochilas com foguetes.
Até o nome – que, em português, significa Universidade da Singularidade – soa como algo saído de um livro de ficção científica, principalmente porque saiu de um livro de ficção científica. "The Singularity" é um termo que seu cofundador, o escritor e futurista Ray Kurzweil, apropriou de um ensaio do escritor de ficção científica Vernor Vinge, e, embora as definições variem, normalmente significa o ponto no qual a inteligência dos computadores ultrapassa a humana. De acordo com as previsões de Kurzweil, e ele tem certo embasamento nisso, isso acontecerá em 2029.
Kurzweil é genuinamente único. É cientista, inventor – desenvolveu um dos primeiros sistemas de reconhecimento de fala –, autor e trans-humanista: acredita que, se conseguir viver por tempo suficiente para a tecnologia ser inventada, poderá viver para sempre. No entanto, é mais conhecido por ser um futurista. Previu a queda da União Soviética, o crescimento da Internet, o ano no qual os computadores derrotariam os melhores enxadristas humanos do mundo, o leitor eletrônico, a educação online, e muito mais. De acordo com suas contas, 89 das 108 previsões que fez em 1999 sobre onde o mundo estaria em 2009 estavam corretas, e outras 13 estavam “essencialmente corretas.”
No coração de todas as previsões de Kurzweil está a lei de Moore, a regra pela qual o poder da computação dobra a cada dois anos, observada pela primeira vez por Gordon Moore, que cofundou a Intel, em 1965 e previu que a tendência continuaria “por pelo menos 10 anos”. Na verdade, continuou pelas cinco décadas seguintes e não deve acabar tão cedo. O poder da computação mostra um crescimento exponencial: um se torna dois, que vira quatro, que se transforma em oito e, quando colocado em um gráfico, parece um foguete decolando.
Obviamente, uma coisa é observar isso em semicondutores e outra é aplicar em todas as outras áreas da vida humana. Mas se fazemos um gráfico da trajetória de carreira, plano de negócios e riqueza pessoal de um número considerável de pessoas na sala, haveria muitas linhas em forma de foguete, porque a lei de Moore parece descrever muito do que aconteceu no Vale do Silício. Portanto, não é muito surpreendente que alguns de seus moradores mais ricos e bem-sucedidos tenham adotado a ética e o espírito da Singularity University.
Vint Cerf me diz que foi o entusiasmo de Larry Page e seu apoio ao projeto que o estimularam a se envolver “e depois vim e descobri que havia essas pessoas incrivelmente inteligentes aqui, discursando e na plateia. Para mim, vir aqui é como caminhar por uma floresta de ideias."
O programa-padrão da Singularity University é um curso de graduação de 10 semanas que custa US$ 25 mil (£15,500) e, no ano passado, contou 2.400 pessoas se inscrevendo para 80 vagas. É a versão de um MBA do Vale do Silício. A demanda é tanta que ela também começou a fazer minicursos "executivos", do tipo que frequento. “Empresas bilionárias estão surgindo da noite para o dia”, afirma Peter Diamandis. "E empresas bilionárias estão fechando da noite para o dia”. Ou, como Mike Federle, principal executivo de operações da Forbes me diz: "CEOs estão desesperados para saber essas coisas. todos estão tentando descobrir o que vem pela frente."
Além disso, em vez de ser realizado no campus da Singularity University no centro de pesquisa Ames da Nasa, no norte da Califórnia, estamos no coração da máquina de sonhos de Hollywood, nos Estúdios da Fox em Los Angeles. Jim Gianopulos, chairman da Fox Filmed Entertainment, fez um curso na Singularity University e, desde então, vem pregando sobre ela. Dada a antipatia tradicional entre Hollywood e o Vale do Silício (copyright intelectual versus uma grande copiadora), este parece ser um marco. As ideias estão se espalhando para a cultura de massa: o livro de Peter Diamandis – Abundance: The Future is Better Than You Think [“Abundância: O Futuro é Melhor do que Você Pensa”] – foi direto para a segunda posição na lista de best-sellers do New York Times no mês passado e continua entre os 30 primeiros.
"O poder dos computadores por dólar aumentou trilhões de vezes desde que eu era universitário”, diz Kurzweil em seu discurso de abertura, falando como uma cabeça holográfica em 3D da sala de sua casa, em Boston. "Guerra, depressão, nada disso causa impacto. Ele continua crescendo exponencialmente”. A saúde fazia progresso linear, mas “se tornou uma tecnologia exponencial”, e com a impressão em 3D, o mesmo ocorrerá com “o mundo das coisas físicas”.
Nosso problema com ponderar o futuro é que nossa expectativa é "linear, não exponencial", afirma. As coisas não vão mudar incrementalmente, e sim explosivamente. Foi isso o que chamou a atenção de Peter Diamandis – ele leu o livro A Singularidade Está Próxima, de Kurzweil, durante uma trilha no Chile – e o inspirou para montar a universidade
Ao final da primeira sessão de discussões, ele nos diz para "fazer uma convenção" e pensar em algumas soluções para nosso “grande desafio”. E então, Deus meu, “um de vocês irá falar sobre seus achados para o restante da classe."
Estamos em sete na mesa, e a ideia é a de que, entre nós, devemos dar uma solução – ou, sejamos ambiciosos – soluções – para alimentar os sete bilhões de habitantes do mundo. O que Ashton diria? Minha hipótese é a de que será um pouco como quando o senhor Gould, meu professor de matemática da quarta série, tentava uma técnica semelhante nos anos 80 e ficávamos sentados lendo a revista Smash Hits até ele escrever a resposta na lousa.
Só que não, o grupo em minha mesa começa desavergonhadamente a jogar ideias reais: é possivelmente por isso que bilionários são bilionários e CEOs são CEOs. Eles realmente arregaçam as mangas. “E quanto a carne artificial?” sugere Mike Federle, o que, em outro grupo, poderia parecer um devaneio, mas aqui é mais uma observação factual. "Poderíamos fazer um bife agora”, diz Robert Hariri, um médico que fundou uma empresa de biotecnologia especializada em tratamentos pioneiros com células-tronco. "Só que vai custar US$ 20 mil". Fico de boca fechada e troco um sorriso “nem todos podemos ser gênios” com um latino simpático do outro lado da mesa. "Ricardo Salinas", diz o crachá. O segundo homem mais rico do México (e o 37º mais rico do mundo), descubro depois.
Há uma vantagem deliberadamente competitiva nos procedimentos. Ela está de acordo com os pontos fortes dos CEOs e é um dos princípios orientadores de Peter Diamandis. Ele aprendia a voar quando alguém lhe deu um livro sobre o voo destruidor de recordes de Charles Lindbergh sobre o atlântico e descobriu que foi uma viagem incentivada por um prêmio.
Esta teoria o levou a criar o Prêmio X, que começou como um incentivo de US$ 10 milhões para a primeira pessoa ou empresa a criar uma espaçonave tripulada particular reutilizável (Burt Rutan e Paul Allen, cofundador da Microsoft, venceram em 2004 por sua SpaceShipOne). O Prêmio X lançou muito mais, o mais recente sendo o prêmio Tricorder Qualcomm de US$ 10 milhões para inventar um dispositivo móvel – ou "tricorder”, como era chamado em Star Trek – capaz de diagnosticar 15 doenças.

Abundância de ideias

Há muita coisa para absorver. Não estamos nem perto do almoço e já vimos apresentações de Craig Venter sobre seus planos de criar biocombustíveis fabricados por microalgas: um acre, acredita, poderá produzir 10 mil litros de óleo por ano, diferentemente do milho, que pode produzir apenas 18. Ele acabou de receber um investimento de US$ 300 milhões da Exxon para transformar isso em realidade.
Andrew Hessel, um dos professores de Biotecnologia da Singularity University que está tentando abrir os tratamentos de câncer, fala sobre como a biologia é a próxima tecnologia exponencial. O código genético se tornará “uma linguagem de programação”. Estamos à beira de uma mudança maciça. O acesso biológico ilegal do tipo “faça você mesmo” já começou. “Os vírus estão vindo primeiro”, diz. “São os mais fáceis de fazer”. Também há Vint Cerf sobre a "internet das coisas". No futuro próximo, dispositivos conversarão entre si, afirma. "Você está fazendo compras e recebe uma chamada. É a geladeira dizendo ‘Não se esqueça do molho marinara’."
Ele encerra seu discurso com seu sonho de uma Internet interplanetária. “A Darpa [agência de projetos de pesquisa avançada do departamento de Defesa dos EUA] conta com uma bolsa para desenvolver um veículo espacial que chegará a uma estrela em 100 anos. Nas taxas de propulsão atuais, isso levaria 65 mil anos, então precisaríamos de uma espaçonave com combustível nuclear que possa viajar a dois terços da velocidade da luz. Só que também temos que trabalhar a comunicação”. Parece levemente arrependido. "E ainda não fizemos nada em escala intergaláctica."
Neste contexto, não parece tão absurdo quanto deveria quando alguém sugere usar impressoras 3D (máquinas que montam objetos camada por camada a partir de um arquivo digital) para imprimir impressoras 3D, que, então, poderão imprimir um par de sapatos. Ou uma casa. Ou o jantar. “Na verdade, isso já está acontecendo”, outra pessoa destaca. No entanto, impressoras 3D – e um protótipo de casa feita ao extrair concreto líquido de uma “impressora” gigante já foi construído – são apenas uma das Próximas Grandes Coisas que vêm por aí. Aprendemos sobre dezenas delas nos dois dias seguintes. Esta é a “abundância”: a tese de Diamandis de que logo entraremos em um mundo “pós-escassez”. Esqueça o pico do petróleo. Quem precisa dele quando temos "15 terawatts de potência do sol chegando à Terra a cada 15 minutos"? O desafio é simplesmente coletar isso. “E estamos cada vez melhores nisso."
Não é que isso vá mudar nosso próprio comportamento insustentável, observam seus críticos; é que, como Craig Venter afirma, essa tecnologia também é bastante difícil e, às vezes, não se sai tão bem quanto o esperado. Quando ele se levanta para falar, seu microfone não funciona. “E deveríamos estar imprimindo novas formas de vida”, diz.
Às vezes, Diamandis dá a impressão de ser, bem, o palestrante motivacional que é. Tem uma frase em aforismos que soam como se tivessem saído de um gerador automático de terapeuta motivador (“A melhor forma de prever o futuro é criá-lo”, “Se você não pode ganhar, mude as regras”, “A besteira caminha, o hardware fala"), embora tenha o dom também de encapsular uma ideia. Uma de suas citações mais conhecidas é a de que um guerreiro da tribo Masai com um celular tem melhor capacidade de telecomunicação do que o presidente dos EUA tinha há 25 anos. “E se ele tiver um smartphone com Google, tem acesso a mais informações do que o presidente tinha apenas 15 anos atrás."
Ele pode ser um tanto showman, mas tem conteúdo. Algumas das pessoas mais brilhantes e bem-sucedidas do mundo o levam a sério. Na terça-feira passada, para dar só um exemplo, lançou uma empresa – respaldada por, entre outros, Larry Page, cofundador do Google, e Eric Schmidt, seu chairman – para utilizar espaçonaves para minar asteroides na busca de minerais raros.
E ele tem o pendor do amigo Richard Branson para o marketing. O segundo dos nossos três dias de curso termina com uma festa no cenário de uma rua de Nova York nos estúdios da Fox. Dois paraplégicos se levantam da cadeira de rodas para andar pelo palco em exoesqueletos robóticos e will.i.am dá suas impressões sobre o dia: "Mudou toda a minha perspectiva de vida, mas estou preocupado com nossas cidades do interior. Acabei de ouvir que minha sobrinha vai ser mais burra que seu celular. Tivemos uma geração que queria melhorar o saldo do banco, não o cérebro. Quero inspirar os jovens a ser cientistas e engenheiros."
Há uma bela circularidade nisso. Peter Diamandis foi criado no Brooklyn, filho de imigrantes gregos, e sua inspiração para se tornar cientista foi a missão do Apollo, tirando diplomas em Medicina e Biologia Molecular e, finalmente, um PhD em Engenharia Aeroespacial no MIT. A Singularity University nem é a primeira universidade que fundou – ele montou a International Space University aos 20 e poucos anos, e ela já treinou uma geração inteira de cientistas da Nasa. É por isso que Buzz Aldrin veio e por que outro astronauta, Dan Barry, é professor no curso de Robótica da SU (a grande previsão de Barry: ciberconsolo. Sexo com robôs. "Você acha engraçado, certo? Só que também sou médico especializado em reabilitação, e sexo é um impulso humano básico que os robôs conseguirão satisfazer para os deficientes físicos, viúvas, idosos. Vai acontecer. É bom você aceitar").

Visões assustadoras

Só que o futuro não é todo feito de sexo emocionante com robôs e energia solar livre. O discurso de Barry também inclui vídeos de alguns outros robôs em desenvolvimento. Se você acha abelhas assustadoras, é porque ainda não viu o vídeo no YouTube do enxame de quadrocópteros autônomos. Ou o dispositivo em forma de beija-flor que pode pairar no ar e, depois, atravessar uma janela, ou o Big Dog, que parece algo saído do filme Blade Runner, ou, na semana passada, um robô novo com pernas que consegue fazer o que nenhum Dalek conseguiu: subir escadas.
No entanto, nenhuma dessas coisas está sendo desenvolvida para ajudar a levar refeições ou no cuidado paliativo. São máquinas de guerra, a maioria delas desenvolvida com fundos ou apoio da Darpa (encontro sua chefe, a formidavelmente impressionante Regina Dugan, no banheiro feminino: não parece belicista, mas, uma semana depois, foi anunciado que ela estava de partida para trabalhar no Google.)
Até Dan Barry, que comanda sua própria empresa de robótica, faz uma advertência: “Não vejo nenhum ponto final aqui. Em algum momento, os humanos não serão suficientemente rápidos, então o que você faz é torná-los autônomos. Onde isso termina? No Exterminador do Futuro."
Não se trata apenas dos robôs. Ou do fato de que crianças estarão mexendo com o DNA. "Ninguém quer que seu filho seja o primeiro a montar o vírus Ebola", diz Venter, “que tem um genoma muito pequeno”. Mas também não parece haver nenhum caminho prático, que alguém tenha pensado até agora, para evitar isso.
Durante a apresentação de biotecnologia, ouço uma voz britânica se levantar e fazer uma pergunta sobre regulação. No intervalo, converso com o dono da voz, Simon Levene, capitalista de risco especializado em tecnologia. Está aqui, diz, “porque não há outro lugar tão multidisciplinar. Essas coisas mudam tanto e tão rapidamente que é quase impossível se manter a par”. Pagou US$ 5 mil pelos três dias e admite que o preço é baixo. “Custa muito menos do que um MBA, e fiz o meu em Harvard, e provavelmente aprendi mais aqui."
A tecnologia é impressionante, diz, mas tem a mesma apreensão do que eu sobre a utopia tecnológica do Vale do Silício. "Há alguns efeitos colaterais potencialmente letais, não? Toda solução tem consequências não intencionadas. E também há questões éticas e regulatórias muito reais a considerar que estão sendo ignoradas. O problema é que não confio que o mercado faça isso, mas também não confio no governo. Precisa haver uma supervisão ética internacional. Um poder simplesmente enorme está para ser liberado. A Darpa não está aqui para brincadeira."
Uma das coisas mais assustadoras que ouço, no entanto, não é tão ostensivamente temerosa quanto máquinas de morte autônomas. É quando Sebastian Thrun está falando. Ele revelou o carro sem motorista na TED em 2011 – desenvolvido em resposta a uma competição realizada pela Darpa – depois de já ter dirigido 320 mil km pela Califórnia, uma tecnologia que certamente mudará nossas vidas profundamente.
Tem sido um ano e tanto para Thrun: ao ver outra apresentação na TED de Salman Khan sobre seu website de educação online, a Khan Academy, decidiu fazer um vídeo de uma de suas aulas de inteligência artificial em Stanford e disponibilizá-lo online. Um número impressionante de 160 mil pessoas se inscreveram, das quais 23 mil estavam na pós-graduação. A melhor da classe era uma deficiente chamada Melody Bliss, que trabalha em tempo integral e faz hemodiálise três vezes por semana.
Foi suficiente para persuadir Thrun a deixar seu cargo em Stanford e montar a Udacity, uma universidade online gratuita, aberta a todos, que pode mudar a cara da educação. Esta é a boa notícia. Só que ele também fundou e é chefe do Google X, a divisão ultrassecreta de projetos especiais do Google. Está fazendo o protótipo dos "óculos Google", de realidade aumentada, que transmitirão a Internet diretamente a seus globos oculares, mas é o que Thrun diz que está por vir que parece, para mim, ainda mais inovador. Dados maciços. Sobre tudo. "Acredito sinceramente que, nos próximos 10 a 15 anos, os computadores conseguirão capturar a experiência de uma vida inteira”, afirma. Cada aspecto de sua vida existirá online para sempre. E não é um cientista solitário em um laboratório de computação distante que está afirmando isso. Thrun, só para lembrar, trabalha para o Google. A memória, aquilo que define quem somos, que nos torna humanos, que nos diferencia intelectualmente e nos dá um senso narrativo de nossas próprias vidas, será “terceirizada”. Este mundo, diz Thrun, "não está muito longe". Desfrute da privacidade luxuosa de suas próprias lembranças enquanto ainda é tempo.
Depois, Diamandis pede para os cientistas ali darem suas melhores previsões para os próximos cinco a 20 anos. “As capacidades de IA serão indiferenciáveis das humanas", diz Thrun. A maioria dos empregos não existirá mais. "Haverá uma explosão”, prevê, “na arte e na música”. Nossa definição do que é ser humano vai mudar, de acordo com Dan Barry. Normal não será mais suficiente. Robôs estão sendo ensinados a ter emoções. Vamos começar a ter empatia com eles.
Christopher deCharms, neurocientista que ajudou a desenvolver um novo tipo de máquina de ressonância magnética que pode obter imagens do cérebro em tempo real, vai mais além. "Acredito que daqui a 10, 20 ou 30 anos, detectores de mentira irão funcionar, e farão uma retrospectiva até o momento em que estamos. Haverá uma revolução na privacidade. A transparência chegará até a nossos pensamentos."
Em seu discurso de abertura, Ray Kurzweil destaca que um computador da IBM chamado Watson recentemente havia derrotado os maiores campeões humanos do programa de jogo da TV Jeopardy: "E isso não é apenas através de análises estatísticas. Acho muito significativo. É reconhecimento de padrões, que é o que as pessoas fazem. Tinha de entender jogos de palavras e metáforas e simulações e piadas. Consegue ler documentos de linguagem natural. Leu toda a Wikipedia – 200 milhões de páginas de documentos. Demorou três anos, mas, ao final desse período, há uma vantagem natural na inteligência da máquina."
A singularidade realmente está próxima, afirma. Está a menos de 20 anos de distância. “Eu diria que seriam 30 anos depois de 1999. O consenso, na época, era de 50 anos. hoje, está em torno de 20 anos."
Entretanto, quando envio um e-mail para Sebastian Thrun pedindo sua opinião, ele responde: “Não é um evento único: é uma sequência que está em andamento. Será difícil dizer quanto dela já está acontecendo. De muitas formas, os computadores são mais inteligentes do que as pessoas hoje."
Seu argumento é bom. "O Siri [assistente de reconhecimento de voz do iPhone] me faz lembrar de uma mulher que ouve que um cachorro joga xadrez e lhe perguntam ‘Não é incrível?’” diz Kurzweil. "E ela responde ‘Sim, mas o fim de jogo dele não é muito bom’."
O fim do jogo provavelmente ficará melhor. O mundo está mudando, de formas que nem conseguimos imaginar. Seja lá o que estiver fazendo, a Singularity University está vendo problemas de forma diferente. Peter Diamandis nunca se refere à superpopulação ou a recursos limitados. Fala de “três bilhões de novas mentes entrando no mundo online” nos próximos anos, um dialeto do Vale do Silício para “nascendo”. Essas mentes são uma oportunidade, insiste, porque "a taxa de inovação é uma função do número de pessoas que realmente se comunicam e isso está crescendo explosivamente com a Internet."
Durante o almoço, converso com ele enquanto equilibra seus bebês gêmeos sobre os joelhos, e é enfático, em vez de tecnotriunfalista, sobre o que está tentando fazer. Acredita que as pessoas podem fazer coisas extraordinárias. “Porque essa é minha experiência: vi gente fazendo coisas extraordinárias."
Então, ele me pergunta: “Você não fez? Nestes últimos dois dias?” É verdade. Fiz. Há motivos para comemorar. Só que, quando se trata de homem versus máquina, devo dizer que aposto nas máquinas.