sábado, 21 de agosto de 2010

Varig: uma marca dos sonhos de tanta gente

A notícia da falência da Varig (que na verdade é uma agonia de muitos anos) é mais uma oportunidade para lamentar a perda de uma marca que construiu um gigantesco patrimônio de relacionamento com seu cliente. Talvez o maior do Brasil em todos os tempos. Problemas administrativos à parte, a marca Varig - mesmo nos seus momentos mais terríveis, com serviço de bordo em degradação, atrasos de salários, de voos e tudo o mais -, ainda mantinha seu ativo intocável e havia uma constante esperança pela sua recuperação. A Gol assumiu a empresa em 2007, resolveu manter a marca e recriou a parte visual. Houve então uma grande esperança. Mas as condições de mercado foram se impondo e a marca passou para a memória e agora, neste 2010, vai saindo de vez da cena do business.


É um lamento. Eu tive oportunidade de trabalhar 8 anos com a web da Varig. Foram anos de intenso aprendizado sobre o mercado de turismo e, claro, de web também. A empresa foi um dos meus primeiros clientes ainda na Advice e construimos projetos incríveis. Não lidávamos com o Amadeus, o sistema de vendas que era extremamente "cintura dura", especialmente em usabilidade. Isso prejudicava demais a percepção do próprio projeto de web. Mas nosso foco era as campanhas de divulgação promocionais apenas pela web com impressionantes números de venda que conseguimos.


Um dos trabalhos mais emocionantes que fiz para a Varig foi exatamente o lançamento da nova marca, em 2006. A parte off line foi feita pela DM9 e a Addcomm, então minha empresa, fez a parte digital. Criamos uma ação que incluia um hotsite onde as pessoas podiam deixar mensagens de boas vindas para a marca, então 'ressuscitando' pelas mãos da Gol. Em menos de uma semana foram 23 mil mensagens (dentro de cada estrelinha do céu digital). Mais do que isso: declarações de amor incríveis! Era emocionante ler aquele patrimônio todo. Passei horas fazendo isso, me emocionando. E olha que não havia um gift para as pessoas. Nada de "give and get". Era apenas um grande mural digital.


Abaixo, reproduzo um texto que escrevi na época para a defender toda a proposta da campanha digital para o marketing da empresa. A idéia era que as pessoas escrevessem suas histórias com a Varig como eu estava ali escrevendo a minha. Ajudou a aprovar a campanha. Este post de hoje eu dedico a todos os profissionais maravilhosos que trabalharam comigo (e não foram poucos!) nessa conta linda. Juntos, devemos muito a ela.


A Varig do meu sonho voa. E vive.

Eu nasci numa cidadezinha da Região Amazônica chamada Abaetetuba. Em Abaetetuba, na minha infância, todos os dias a vida era linda porque era mais um dia para se sonhar. E, como em todos os sonhos de criança, os meus sonhos passavam por caminhos além da imaginação. Eu queria ser astronauta. Queria voar de avião. As canoas, o barco que ia para Belém, até os carros eram mais ou menos comuns. Mas voar era para aquela coisa de metal que nunca passava no meu céu. Eu era apaixonada por voar mas isto era um sonho. Passei a infância sem realizá-lo.

Eu cresci e os sonhos vieram comigo. Voei de monomotor, bimotor, helicóptero, Brasília e até em um Búfalo da Aeronáutica. Mas a viagem dos meus sonhos eu voei em um airbus da Varig. Foi a viagem da minha vida. Rio - Frankfurt e de lá para Paris. Embarquei com o coração árido e triste e voltei apaixonada. A Varig tinha sido muito mais do que meus sonhos profetizavam. Ela tinha me levado para Paris. Para lá eu me apaixonar. Sem querer ela era um dos vértices de um lindo triângulo amoroso.

Depois de tanta agonia de quebra, falência, fecha-não-fecha, a Varig foi comprada há 1 mês. Mas, uma semana antes da compra, no epicentro dessa confusão, quando não se sabia se a Varig ia mesmo ser comprada ou que futuro incerto a esperava, eu estava em SP. Tinha um bilhete da Gol para voltar ao Rio. Olhei para aquele guichê vazio e lembrei do meu sonho de menina. Guardei o bilhete e fui ao guichet da Varig. Comprei um bilhete para a ponte no horário mais próximo. O avião decolou pontualmente com uns 15 passageiros. Eu não ia para Paris. Mas eu estava cumprindo um sonho de agora: a Varig estava voando. E se ela voava ela estava viva. E se ela estava viva tinha uma chance de continuar sonhando. E aí veio a boa sensação de que a Varig vai continuar levando muita gente para encontrar com seus sonhos. Estejam eles onde estiverem.

Print do hotsite da campanha