domingo, 22 de maio de 2011

Twitter: de Andy Wharol ao Graal

(*) Artigo originalmente publicado no Portal IDGNow http://t.co/HcMNzjO


O Twitter virou uma dobradiça por onde passam hoje nossos muitos “ais” e “uis”? Trata-se de um Graal digital? Ou um Andy Wharol redivivo? Onde estão suas inflexões mais apaixonantes é onde também habitam suas mesmices. Sim, ele exerce uma atração incrível para gente de todo tipo. E isso tem nos deixado diante de situações, cenas e atitudes que não se imagina em outro meio que não tivesse suas características. Sua mobilidade nos permite publicar de qualquer lugar. Sua instantaneidade pauta a mídia offline. É “fun” (foto, twitcam, mini vídeos, textos suaves) e, especialmente, tem essa possibilidade de liberar e compartilhar a criatividade da vida pessoal e fazer releituras das posturas corporativas. Ainda que, neste último caso, com um risco gigantesco.


Vejam o que anda acontecendo com os buscadores. O impacto do Twitter nos sistemas de busca parece ficar mais interessante a cada dia. Acabo de ler uma apresentação feita pela empresa Seomoz (www.seomoz.org), em Melbourne, no evento da @istrategy, em que a empresa mostra como fez um teste, no mínimo, curioso. Eles mesmos dizem que ainda é empírico. Mas é um exemplo para pensar. Publicaram um link com uma informação sobre uma campanha humanitária (no mesmo domínio e como as mesmas key words) e divulgaram as duas de maneiras diferentes. Em um caso distribuíram o link para sites e no outro usaram apenas 1 link no Twitter.


No primeiro caso, o link “tradicional” gerou 646 links em 36 domínios diferentes e teve 2 tweets . No segundo caso, o tweet único teve 522 novos tweets. Resultado final? O link do Twitter jogou rapidamente a campanha para o 1º. lugar do Google. O outro nem apareceu. Ou seja, os buscadores hoje estão com seus algoritmos focadíssimos na relevância dos Tweets. Fique atento a isso para sua próxima campanha nas mídias sociais. E com a estratégia de SEO, inclusive.


É impressionante também como o movimento de migração dos meios off line para o digital trouxe-lhes uma nova perspectiva. Alguns até se reposicionaram. Vários deixaram de ser aquele jornalão ou revista chatos que a gente lia com vontade, mas sem desejo. E isso faz diferença, a gente sabe! É verdade que muitos ainda estão tateando e não sabem nem mesmo se a quantidade de perfis – por exemplo - que criam para cada editoria é boa ou não. Ou como lidar com seus colunistas simultâneos de tinta e bits sem canibalizar o papel (e o pão deles) do dia seguinte. Esses e outros tais existenciais são próprios de uma transição. E talvez essa resposta nem exista mesmo. Melhor não antecipar a menopausa. Mas é uma grande reviravolta terem se juntado ao cidadão comum no microblog entendendo que no Twitter vale também o que está na origem da genética jornalística: o que conta é a informação veloz que se revela o mais perto possível do momento real da notícia.


Todos os grandes veículos mundiais possuem perfis no Twitter. E quando monitoramos um tema para saber seu alcance e impacto, acreditem, eles estão lá em 1º lugar com o maior grau de influência, de retweets e replies. Ali são também mídia de massa! E, melhor, ficaram mais fun. Agora são mais desejados. Gostamos mais hoje de ler a grande mídia no on line. Simplificou nossa vida. “Culpa” também dos celulares e da banda 3G... E bem, depois... se o assunto se desdobra, rola um papel. Mas não é mais assim... um grande desejo ir atrás dele.


E, finalmente, volto a um aspecto que sempre me deixa estupefata toda vez que abro o Twitter quando acordo: a distância curta e direta entre o hostil e os anos-luz que separam 140 caracteres da tolerância. Dizem que os adolescentes não possuem nuances, não é mesmo? Como se só vissem em preto ou branco, ignorando o cinza. É uma boa analogia para o Twitter: a hostilidade (a gratuita, e, por isso, mais grave) e a reconhecidamente necessária (aquela que visa denunciar com responsabilidade, por exemplo) estão ali, ágeis, criando correntes importantes. Isso é especialmente relevante, pelo que já escrevi antes, porque possuem a capacidade de transbordar para o offline também. No caso do gratuito é de um dano tremendo porque poucas vezes se faz o movimento – justo - de retificação. Herança talvez da imprensa offline onde o direito de resposta, por exemplo, é muito restrito diante do estrago causado por uma informação errada dada em manchetes.


Ouviu, sofreu, leu, manda-se em frente o post como se não houvesse amanhã. E existe amanhã! E dessa forma reputações são erodidas com retweets fáceis e, nesses casos, muitas vezes por pessoas que querem apenas colocar um “pin virtual “ na sua persona egóica do tipo: eu tuitei isto! Pura irresponsabilidade.


Seria diminutivo se não falasse de quantos engajamentos em causas eu já vi acontecerem no Twitter. O case da Tomada do Complexo do Alemão com o #paznorio, a #ondaverde da Marina Silva, #chuvasrj com a tragédia da Serra Fluminense e outras lideradas por marcas como a Pepsi, que tem feito um trabalho brilhante nas redes, só para citar uma marca. Não são pelo modismo e nem pelo tal “pin virtual” mas sim porque você quer contribuir para algum debate de maneira inteligente. Mas mesmo aqui tenho observado escorregões como o apoio a doação de sangue. Qual o percentual de pessoas que tuita e depois vai mesmo lá doar? Ok, ok, nem todo mundo precisa doar. É bom também ser meio e não agente. Mas só tuitar também para cumprir sua “persona digitalis” é questionável, não?

E tem também as causas “Andy Wharol” que dão, em curto tempo, celebrização para certos temas. Depois são enterradas em algum enorme lixão virtual onde os “trending topics” devem ser descartados todo final de tarde pela turma de Biz Stone. Que Deus as tenha. É a dinâmica do real time. E é fun. Gosto muito disso.

O melhor é que a gente pode viver essas movimentações com a certeza que, talvez, a parte mais crucial para se entender esse novo Graal digital é ser resiliente. Um estilingue que tensiona, dispara e não deforma seriamente. Mas a própria vida é assim não é? Com a grande vantagem de possuir bem mais do que 140 caracteres! ;-)

Redes Sociais: Constrangimento e Morte

O uso inadequado de ferramentas digitais está virando uma arma perigosa. Literalmente. Em alguns casos mais graves que outros. Tem matado. Menos complicado quando é de vergonha. Mas em muitos casos é tirando mesmo a vida das pessoas.
Pesquisadores da Universidade de Utah (EUA) dizem que uso do celular enquanto se dirige é quase tão perigoso quanto uma pessoa alcoolizada no volante. Eles mostraram que aliar celular e direção quadruplica o risco de acidente.
A isso se soma uma enxurrada de outros tipos de constrangimentos: mensagens postadas no ardor de uma insatisfação profissional ou pessoal; desabafos tornados públicos depois de uma briga; opiniões compartilhadas com o teor de doses etílicas, vazamento de dados estratégicos.
O fato é que o tema merece um debate maior. Por vergonha, profissionalismo ou por amor à vida, é bom começar a prestar mais atenção nesses desdobramentos.

Esta semana a imprensa mostrou um filme em que adolescentes se dividem entre dirigir o carro e enviar torpedos no celular.
A sequência pavorosa que se segue ao descontrole do carro “dirigido” pela dona do celular está se tornando comum em várias estradas: carros batendo, capotando, gente quebrada, sangrando e morrendo.
O Programa “Mais Você” mostrou esse vídeo chocante e abordou o tema esta semana:http://glo.bo/itCixe

O alerta é vermelho. Não se trata mais só de usar a parte de voz do celular ao volante – vício mais antigo, perigoso e passível de multa – e sim de se tentar acessar conteúdos mais complexos, enviar SMS e postar nas redes sociais, preterindo a estrada.
Outro exemplo recente é o patético uso que os jogadores de futebol começaram a fazer do Twitter. Historicamente mal preparados para a comunicação, na rede eles repetem o comportamento: postam desde insatisfação com o banco de reservas até rixas clubísticas que tem incendiado chefes de torcidas nas arquibancadas.
E fica o pior: ajudam a aumentar o patamar da beligerância que voltou a tomar conta do clima dos jogos de futebol, com brigas violentas que são marcadas antecipadamente pelas torcidas, em comunidades nas redes sociais. Tem sido recorrente.
Há também situações vexatórias que algumas instituições – e empresas – têm vivido com “acidentes” na publicação de comentários pessoais em perfis corporativos.
Casos constrangedores recentes envolveram os senadores José Sarney e Aécio Neves. E, aí, danou-se. A rede não “conjuga” o verbo “apagar”. Vira manchete na rede e no offline.
No âmbito privado a confusão não tem sido menor. As demissões se multiplicam por justa causa. Nos EUA chegam a 7% do total. Motivo? Vazamento de dados estratégicos.
Seria diminutivo creditar esses problemas à ampliação do uso das redes sociais e do celular no país. A questão está mais no patamar da educação: em casa, institucional e corporativa.
São pais permissivos com seus filhos conectados e sem limites; profissionais mal orientados pelos clubes e empresas; cidadãos que não são punidos com o necessário rigor porque usam seus lindos smartphones enquanto dirigem.
São, enfim, profissionais sem preparo que são responsáveis por publicar conteúdos em redes que representam posicionamentos oficiais de empresas e instituições sérias. E que precisam zelar por sua reputação também no ambiente digital.
As redes sociais e os celulares se transformaram em grandes conquistas recentes que a tecnologia trouxe para melhorar nossa vida.
Transformá-los em arma de morte e constrangimento é uma estupidez e uma distorção que precisa ser debatida e tratada. Afinal, a inclusão digital é um caminho irreversível.

Artigo originalmente publicado no @blogdonoblat http://glo.bo/mIfG5Y