domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Rede de Marina Silva

Marina Silva (@silva_marina) acaba de lançar seu partido. E que chama de Rede. Nascido das próprias buscas políticas de @silva_marina, a (ou será “o”?) Rede surge com uma característica que também tem marcado a militância em torno dela: o uso de redes sociais. Tanto é que entre os 11 pontos apresentado em seu estatuto, o novo partido cita o ambiente digital em dois: no 7 (transparência total online dos gastos durante a campanha eleitoral) e no 8 (utilização de redes sociais para a dinâmica partidária).
E, claro, como já se sabe e muito se comentou, o próprio nome “Rede” traz em si uma contribuição para o que Marina Silva imagina em termos de dinâmica partidária. É um bom pensamento. Até porque aqui também ela tem história. Em outubro de 2010, durante a campanha presidencial que elegeu Dilma Rousseff, foi dela o maior movimento ocorrido nas redes sociais – especialmente no Twitter, rede então muito mais forte do que o Facebook . E isso certamente ajudou bastante na existência do 2o turno, no momento em que o PT esperava que tudo se decidisse ainda no 1o. A ‘onda verde” de Marina, no Twitter, foi uma autêntica Tsunami (veja artigo que escrevi na época): http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/10/05/a-tsunami-digital-do-1-turno-330030.asp
Lembrando: os Tweets (posts do Twitter que citavam @silva_marina) foram “exibidos” 79.369.950 de vezes no microblog no curto período de 3 dias. Essa audiência foi criada por 6,7 milhões de pessoas através de uma frenética postagem de 150 mil mensagens escritas, originalmente, por 74 mil usuários com perfis ali registrados.
Foi um Outubro Verde. Para se ter uma ideia, os dois candidatos com forte apoio de comunicação ficaram para trás ali: José Serra chegou a 40 milhões e Dilma Rousseff  com pouco mais de 52 milhões. Também foi expressivo, mas um olhar qualitativo sobre a “onda verde’ de Marina mostrava um aspecto que era muito menor nas outras duas campanhas e que deve ser uma grande motivador – e um alerta –  para o novo partido que nasce sob essa “insígnia digital”: PSDB e PT travaram uma batalha de militantes estruturada com pouca participação efetiva do cidadão. Este, à falta de um debate mais qualificado que o envolvesse, se deixou levar pelo “3o caminho”: o de Marina Silva e seus posicionamentos mais afeitos ao engajamento: sustentabilidade, por exemplo. Na época também publicamos, pela FSB Digital, um estudo sobre isso:http://www.slideshare.net/fsbcomunicacoes/fsbcomunicacoeseleicoes-digital2010final
O cidadão conectado é exponencialmente mais hostil do que o consumidor 2.0 (que já é uma fera…). Não se poderia esperar diferente com a história política do país. Trata-se de um cara quase amargurado. Mais: descrente e irônico. Ele nunca cede a uma campanha digital de engajamento de governos (de qualquer esfera) mais do que um desconfiado voto de confiança. Um só a cada vez. Mínimo. As campanhas eleitorais realizadas até agora não ajudaram muito na “politização” desse cidadão conectado. Em quase todas (com poucas exceções), desde a explosão das redes sociais, o que tivemos foi muito debate entre a militância política e pouco engajamento real do cidadão. A caravana política tem passado pelo mundo digital como passam os comícios pelas praças públicas. No formato, no discurso, nas “pegadinhas”. E, claro, desse jeito, nunca vai tirar daqui o máximo que se pode ter. O resultado? Quando muito, um ativismo de sofá (em geral, desqualificado de engajamento). Quando muitíssimo: um protesto, um sinal, como a “onda verde” de Marina Silva em 2010. Um ponto fora da curva.
O novo partido, caso queria efetivamente usar o potencial de engajamento da rede, não terá vida fácil. Mas fiquei feliz que se proponha a esse desafio. Já estava na hora de aparecer algo assim. E eu diria que a primeira e mais importante fronteira a enfrentar é exatamente parar de falar para os próprios perfis (umbigo). Pregar no deserto digital quando muito… dá eco. Engajamento e interesse? Esqueça. Terá que pensar em um volume consistente de conteúdo e com a cara do que a rede (a de todos nós, não a de Marina Silva) gosta: formato é tão crucial quanto a mensagem. Relevância é rainha e conteúdo é rei.
A política brasileira ainda não entendeu a dimensão comportamental do cidadão conectado. Em grande parte porque esse é mesmo  um entendimento difícil para todos os setores (as marcas B2C estão aí com seus cases para nos mostrar isso). Mas, por outro lado, porque ainda continua a olhar para as redes como se fossem um palanque político do interior.
Tomara que a turma da Rede mude essa trajetória. Marina foi a figura política que mais mostrou carisma para isso. Mas é também preciso estratégia e técnica. Não se pode fazer porque é mais barato (até porque não é…). Vou torcer para que tenha. Para mim é menos uma questão política. Não se pode ignorar que o Brasil é o país onde as pessoas possuem , na maior rede do mundo – o Facebook – a maior média de amigos (483, segundo a Go-Globe.com, contra 130 dos EUA, segundo colocado. É muito!). Somos intensamente sociais e gostamos de compartilhar nossas ideias. Isso é bom para a política e para o cidadão. Marina tem como principal pilar o tema sustentabilidade, muito bem aceito em campanhas digitais. E traz consigo o sucesso de 2010… Enfim, a conferir, certamente. Seria bom para todos que desse certo. Mas precisará sair do discurso.
Artigo originalmente publicado no Portal IDGNow:
http://idgnow.uol.com.br/blog/plural/2013/02/17/silva_marina-em-busca-da-rede-perdida/