domingo, 20 de maio de 2012

Olympia – aos pés de seus 100 anos


Não seria certo lembrar do histórico Cinema Olympia sem antes passar pelas minhas mais incríveis memórias de adoradora de cinema criada nas raízes do “Bandeirantes”, o cineminha  caseiro de Pedro Veriano e que era um verdadeiro cine-clube. Ainda estava catando pedaços para me entender no final da primeira infância e lá vinham aquelas férias em Belém, numa linda casa com um jardim gigante com dois chafarizes deslumbrantes, um monte de quartos, 3 andares, uma piscina  e... o Bandeirantes. Foi onde vi e revi tantos filmes de Carlitos e aprendi a me ajoelhar para o fervor de Pedro Veriano e da família pela “Felicidade Não se Compra”, de Frank Capra.

Daí em diante caí numa maravilhosa armadilha cinematográfica para – graças a Deus – nunca mais sair. Foi – junto com a poesia descoberta com os amigos de jornalismo – o que delineou minha busca pela integridade intelectual, tantas decisões profissionais, tantas buscas por ser uma pessoa melhor (ainda em vigência frenética! ;-). Tantos Fellini, Bergman, Scorsese, Trauffaut, Hitchcock, Chaplin, não atravessam sua vida sem deixá-la melhor.  Foi o Bandeirantes e a Família Miranda e Veriano, que determinaram isso. E daí em diante foi muito natural que o Olympia passasse a ser um lugar indispensável onde cruzei a vida a partir da minha adolescência - em Belém - aprendendo vida com os filmes que ali passavam.

Mas talvez a maior aproximação que tive com o Olympia -  que agora faz gloriosos 100 anos - foi quando tive um arroubo (diga-se, com cúmplices queridos da TV Cultura do Pará, de Pedro Veriano e de Luzia Miranda Álvares): fazer um vídeo  documentário sobre o cinema, sua história e, vejam só, não apenas da trajetória da sala de projeção. Algo mais que mostrasse o quanto de comportamento da cidade tinha passado por ali, especialmente no início do século.

Foi um arroubo porque eu tinha muito pouca experiência em vídeo, começava minha carreira na televisão (TV Cultura do Pará). Era um impulso ensandecido muito mais com aqueles anos todos de teoria de cinema - que vinham lá do Bandeirantes e dos enormes livros que Luzia Miranda me alimentava todo mês -, do que  propriamente de  algum talento já comprovado para a profissão. Mas ser abusada sempre foi uma característica minha. E lá fui eu com um roteiro na mão, cinegrafistas do lado, atores, um monte de histórias pesquisadas e... tantos cúmplices!.

Qualquer olhar crítico sabe que vídeo é hoje a prova da minha inexperiência com o formato. E também a prova de que o amor pelo cinema pode perdoar tanta ousadia para transformá-lo em uma pequena peça do registro histórico de um lugar tão especial para o cinema no Pará e, claro, no Brasil. Isto me deixa feliz. Mas, feliz mesmo fico porque as pessoas podem entender o que eu entendi quando pesquisei para fazer o roteiro do vídeo documentário: o Olympia era um retrato completo, pronto e maravilhoso do auge da sociedade paraense do século passado. Um mini universo completo sobre o ecossitema não apenas cultural mas também social. Sua programação , suas cadeiras invertidas, o tipo de freqüentador que ali ia, os encontros que se davam em seus salões, tudo é história paraense legítima. Vai além do cinema, além de nós. É história pura de como fomos no século passado. Fico feliz que minha ousadia juvenil seja hoje um recorte histórico – que sempre olho com muito rigor crítico no formato usado – do Olympia. Ele também é parte da minha vida, treinou meus olhos para tantos outros projetos. Inclusive, a maioria, que extrapolaram o cinema.

Afinal, veio do cinema tanto aprendizado que tive e tenho, tanta vontade de conhecer o mundo, de tentar ser um pouquinho aqueles gênios que desfilaram por ali – na tela ou na sua platéia. Tanto que tenho a ousadia de pensar hoje que efetivamente consegui ser uma pessoa um pouco melhor por ter vivido aqueles divertidos dias do Olympia.

Olympia, 100 ano! Vida Longa ao Olympia!

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