Tudo o que se disser sobre Woody Allen está sempre dentro contido na dupla simplicidade e genialidade. É um cineasta absolutamente fiel ao seu estilo e se distrai pela vida nos levando para vê-la pelas angústias divertidas de sua hipocondria e seus questionamentos religiosos e familiares. Mas, a melhor “pegada” de Allen está certamente quando ele nos recolhe pelas mãos – ou nos leva à pé - e conduz na direção do sonho. É, certamente, um dos melhores cineastas de todos os tempos quando roteiriza – e materializa - o encontro entre sonho e realidade.
Em “Meia-Noite em Paris” ele esplende, exibe-se, sua forma está melhor do que em qualquer outro tempo. Certamente a gente é mais ou menos tocado por um filme ou um livro quando eles nos remetem a algo de nossa lenda pessoal, nossa ancestralidade ou mesmo um casuístico desejo de fazer algo que, de repente, aparece ali, na obra de arte. Não é diferente e assim o foi comigo.
Paris guarda o sonho sonhado, desejado, projetado, vivido, redivivo ou sequer imaginado de todo mundo. É o sinônimo de romantismo, a terra de Victor Hugo, Rimbaud, Mallarmè, Gauguin, Sartre, Beauvoir... (me Deus!) E todos os “adotados” que só se viam diante de sua genialidade se fosse num café da Rive Gauche: Hemingway, Elliot, Picasso, Dali, Buñuel... tantos, tantos...
No filme Woody Allen me lembrou Clarice Lispector. Não na intensidade pois ele é mais suave do que ela. Mas na forma de conduzir a narrativa que entrelaça passado e futuro. Ou, para ser mais direta, no jeito que conduz a história medíocre para um plano de mudança arrebatador. A narrativa de Clarice sempre reservava para a personagem principal- normalmente uma pessoa pra lá de comum – um evento que aparecia aparentemente do nada, quase por acaso. E pronto: a vida mudava. Um exemplo entre os mais radicais é a barata de “A Paixão Segundo GH“. A rotina se quebra e um outro mundo se impõe, inexerovalmente.
No caso de Gil, o personagem que vive sua boa vida (e comum) havia uma faísca dormente que espreitava uma forma de se acender de vez. E aí o sino, a chuva e os inenarráveis diálogos com o passado, madrugada de Paris adentro, tocam tambores e fogo!
Mais não conto porque seria privar qualquer pessoa de ser surpreendida pela mágica que uniu Paris e Allen. Posso apenas antecipar que você verá um filme do porte de “A Rosa Púrpura do Cairo”, que hoje disputa, para mim, o lugar de “meu melhor filme” de todos os tempos. Se você acredita que pode chamar seus sonhos por você e não por senhor... veja o filme e se deixe arrebatar. Ave Woody Allen que nos permite estas alegrias! #lifeisgood.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
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