terça-feira, 26 de outubro de 2010

E as eleições levaram a web para o século passado...

Artigo originalmente publicado no portal IDGNow: http://bit.ly/8X9fzq

Esperei a eleição de 2010 com muita ansiedade. Há 12 anos meu foco constante é observar, ver, ouvir e tentar entender (e com muita dificuldade) o que somos na condição de “personas digitais”. A dificuldade é inerente ao momento histórico criado pela avalanche de possibilidades da web e do intricado e maravilhoso mundo novo das redes sociais.

Assim, tenho passado esses anos estudando como nos envolvemos, construímos e desconstruímos marcas, imagens e reputações. Não seria diferente para mim na hora da efervescência eleitoral.

Nos vários trabalhos profissionais nos quais estou envolvida sobre eleições, tenho observado que o novo (a web e as redes sociais, especialmente) parece que foi suplantado pelo velho (o tradicional modo de fazer política no país). A invenção da web não trouxe a política para o século XXI. Mas a política conseguiu levar a web para o século passado.

E, o que é pior, usando o melhor da rede: sua capacidade de “viralização”, a convergência com a mídia de massa, capilaridade e mesmo o controverso entendimento sobre o que é a legalidade/ilegalidade do que se faz e sobre o que se diz na rede. Isso sem contar uma parte muito estranha que a web facilita: o anonimato. Ou seja: o jeito de fazer política com denuncismo, mentiras e trocas de informações distorcidas ganhou a rede.

Independentemente dessas comprovações, continuo, a esta altura da reta final da campanha, em busca de um certo “sujeito oculto” que mais me interessa: o cidadão 2.0.

Essa talvez tenha sido a minha maior frustração com a campanha no ambiente digital até agora. Não vi, de fato, – a não ser no caso das celebridades – as pessoas comuns tentando se inserir na campanha para debater. Ok, podemos considerar que não tivemos temas para debates – ou foram poucos.

Com isso, o que parece ter acontecido? As pessoas – não militantes, mas com um candidato por defender – ficaram olhando sem interagir e, quando aderiram, parecem que o fizeram pelo pilar menos importante (mas que é muito forte na internet): a brincadeira.

Enquanto os militantes das duas campanhas pregam entre e contra si, o “sujeito oculto” quase não apareceu. E, quando deu o ar de sua presença, foi para fazer “graça”. Foram poucas exceções, embora devam ser consideradas, claro.

Análise de hashtags

Usando algumas ferramentas de monitoramento disponíveis na web, conseguimos perceber esse movimento. O melhor exemplo foi a disseminação rápida da hashtag #serrarojas, divulgada a partir dos incidentes que aconteceram com o candidato do PSDB, no Rio de Janeiro.

Menos de dois dias depois do episódio, a hashtag foi parar nos TT’s (trend topics) mundial do microblog e alcançou quase 160 mil pessoas, gerando 464 mil vezes a exposição do tema. Cerca de 713 pessoas postaram sobre #serrarojas.

Para fazer uma comparação rasa, basta olhar o quadro abaixo. O sucesso de #serrarojas, em apenas 2 dias, tem quase a metade do mesmo alcance das hashtags oficiais dos candidatos (#dilma13 e #serra45) no mesmo período. Sempre considerando o máximo de análise que o Twitter permite, ou seja, 1.500 tweets.

Completando com a análise qualitativa: quando analisamos quem foram os principais multiplicadores, observamos que a maioria escreveu em seus perfis pessoais frases espirituosas e brincadeiras jocosas relacionadas ao tema mais factual.

A militância do PT se aproveitou, claro, mas o “sujeito oculto”, nosso cidadão 2.0, neste caso apareceu e “surfou” rapidamente na onda. Ele parece se divertir em situações como essa. Porque ele não aparece em outros temas?

Como já disse mais acima, talvez porque não ache nada mais interessante do que isso nas redes em termos de campanha.

Pode-se deduzir que se as plataformas dos candidatos não acharam espaço nas redes sociais para o debate, e o que restou para o “sujeito oculto” abraçar foram as “causas” mais engraçadas e imediatistas personificadas em ondas de #serrarojas, #dylmaboy, #dilmafactsbyfolha e #serracomedor, entre outras.

Ainda temos alguns dias para observar esse movimento, mas, o que fica por enquanto, é uma sensação de estranhamento. Ninguém é ingênuo para achar que não teríamos boatos e campanhas com “fakes” na web. Mas, talvez, o que a gente não esperasse mesmo é que só haveria isso…

É um tempo histórico que se escreve (ou digita-se) de uma maneira que, pessoalmente, lamento. É um tempo histórico que nos será cobrado mais adiante.
Rápida Análise do Twitter

- As hashtags negativas dos dois candidatos possuem números muito parecidos de alcance e de pessoas que as tuitaram. O que chama atenção é a exposição (mais do que o dobro) do #dilmanão em relação a #serramilcaras.

- Os influenciadores que divulgam essas hashtags obviamente são adversários. Os três maiores influenciadores que mais contribuem hoje para a exposição negativa de Dilma Roussef no Twitter não são claramente explícitos na sua bio no perfil, deixando margem para que se analise se são “fakes” ou não. Logo depois vem a militância bem explícita e organizada do partido, perfis regionais e mesmo perfis identificados como apoiadores militantes. No caso do #serramilcaras, os 4 principais divulgadores negativos são perfis de militantes do PT.

- Os perfis oficiais (@dilmabr e @joseserra_) têm comportamento distinto. No caso de Dilma Roussef, que, no primeiro turno, tinha quase toda sua exposição atrelada a perfis negativos à sua candidatura, houve mudança.

Nestas últimas semanas, a militância do partido passou a dividir melhor essa influência ocupando 3 das 5 primeiras posições dos perfis mais influentes no ranking de Twitter da candidata (@dilmanarede, @ProfMariaRachel e @blogdilma2010). É um ponto positivo.

- No caso de @joseserra_, chama atenção o volume da exposição em relação à @dilmabr: quase o triplo, incluindo o volume de posts (tweets). Entre os 4 mil “twitterers” de @joseserra_ atuam forte a militância da @rede45, @alvarodias_ e @TO_DE_OLHO. São todos perfis pró-candidato, mantendo a linha de comportamento do final do primeiro turno quando a maioria das citações do perfil oficial era mais positiva. A novidade aqui é que, desta vez, as celebridades desapareceram.

As hashtags de campanha mais usadas têm perfil muito parecido (#dilma13 e #serra45). E ambas são encabeçadas pelos perfis multiplicadores de militância.

Fontes:

Os dados apresentados neste artigo foram coletados e analisados com a ferramenta TweetReach no período de 21 a 22/10/10.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

@eleitor2010_ Mobilização e Engajamento nas Redes Sociais

Participei de um trabalho muito gratificante com o time da FSB PR Digital que monitorou, pesquisou e analisou 9.384 menções às eleições e aos quatro principais candidatos nas redes, entre 01/08 e 04/10. Confira neste documento essa análise sobre o primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, no contexto de um pleito histórico: o primeiro a testar como o eleitor conectado ia se comportar.
Clique aqui para baixar o arquivo:

http://bit.ly/de9tNM

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Tsunami Digital do 1º Turno

Publicado originalmente em 05/10/2010, no Blog do Noblat (@blogdonoblat)

Não acabou e até o final de outubro muitos bits vão rolar pelas Conexões 3G, iPhones e computadores.
Mas já temos respostas para algumas das perguntas que nos fizemos desde que Obama venceu nos EUA e ficamos imaginando qual seria a importância da comunicação digital nas Eleições 2010, no Brasil.
Faço aqui um recorte bem específico, usando como exemplo o Twitter. Jogo o foco para o desdobramento do que aconteceu a partir do último debate e vou até o resultado que levou a disputa para o 2º turno apoiado na performance da candidata Marina Silva (@silva_marina, seu nome no Twitter).

E já arrisco uma resposta: a internet, especialmente as mídias sociais, tiveram sim, uma parcela de responsabilidade no resultado final da campanha. O “sprint” de Marina Silva no apagar das luzes do 1º turno teve muito do ambiente digital.
A parte quantitativa (*) dessa afirmação é relativamente fácil. A qualitativa é mais delicada pois nem todos os fatores são controlados e é necessário tempo para analisar.

Sabemos que esta reta final foi tão surpreendente que mesmo os experientes institutos de pesquisa tiveram problemas em acertar. Mas temos achados importantes nas redes sociais. O fato é que a temida, por um lado, e desejada, por outro, onda verde, chegou a tempo pelas redes sociais.

Entre os dias 30 de setembro (dia do último modorrento debate entre os presidenciáveis na Rede Globo) e o dia 04/10, 8 horas da manhã, o Twitter funcionou não como onda, mas praticamente como uma tsunami digital verde a favor de Marina Silva. Ou a favor do segundo turno, como queiram.

Os Tweets (posts do Twitter que citam @silva_marina) foram “exibidos” 79.369.950 vezes no microblog nesse período. Essa audiência foi criada por 6,7 milhões de pessoas através de uma frenética postagem de 150 mil mensagens escritas, originalmente, por 74 mil usuários com perfis ali registrados.

Para se ter idéia dessa capacidade de exposição e debate digital (lembrem que estamos falando de pouco mais de 3 dias de dados) o candidato José Serra, do PSDB (@joseserra_ no Twitter), é o que vem logo a seguir com um pouquinho mais do que a metade : 40.875.484 impressões, alcançando 5,6 milhões de pessoas através de 52.788 tweets escritos por 31 mil “tuiteiros”.
A candidata do PT, Dilma Rousseff, vem em seguida com 19.304.199 exibições de mensagens com seu nome, que alcançaram 3,8 milhões de pessoas através de 23 mil tweets escritos por 12 mil pessoas.

Para entender esses números além do seu valor absoluto, é preciso considerar que houve – como é praxe no ambiente das redes sociais – um enorme “empréstimo” de credibilidade dos “tuiteiros” para os candidatos de sua preferência. É uma combinação de número de seguidores (audiência própria) com capacidade de influência(número de vezes que os seguidores desses influenciadores consideram uma informação importante e assim a “retuitam” - reproduzem - para sua audiência própria e dessa maneira, seguidamente, em ondas multiplicadoras).
E aqui a gente tem outro pilar que é preciso compreender: quem foram esses influenciadores com tanta capacidade de atuar nesse recorte de 4 dias do Twitter?

No caso de Marina tivemos uma combinação de mídia online do próprio perfil da candidata (muito forte), com celebridades como Bruno Gagliasso (@bgagliasso), Danilo Gentili (@danilogentili) e @nerdfeliz. Eles fizeram posts com uso das hashtags #ondaverde e #marina43 . Adicionalmente, direcionaram mensagens para os jovens, chamando-os a aderir à candidata verde.

José Serra (@joseserra_) mostrou força da militância em se mobilizar no digital na hora da definição do 1º. turno. Os perfis que mais contribuíram para sua exposição foram @rede45, Sabrina Sato (@sabrinasatoreal) e Luciano Huck (@huckluciano). Huck, em especial, contribuiu com grande exposição positiva para o candidato ao tecer comentários sobre a “ofensiva” de comunicação digital importante da campanha de Serra, já no último dia: a realização de uma Twitcam no início da noite, quando toda a campanha já havia sido suspensa nas mídias tradicionais.

José Serra falou pela câmera no Twitter, por mais de 1 hora, com cerca de 10 mil pessoas (números innformado pela Rede Mobiliza durante o evento). Elas o ouviram e fizeram perguntas. Huck tuitou sobre a entrevista on line e isso gerou enorme repercussão. O que ele postou: Gosto dos canditados dando importância ao twitter...soube que hj as 19h tem twitcam com @joseserra_ http://www.livestream.com/redemobiliza

Logo depois Huck ainda fez outro post dizendo que estava feliz por ver José Serra usando o Twitter dessa forma pois tinha sido ele (Huck) uma das pessoas que o incentivaram a fazê-lo.
Só com isto ele catapultou a imagem de @joseserra_ para mais de 2.4 milhões de impressões.

No caso de Dilma a influência de seus apoiadores foi pulverizada por vários perfis. Destaque para @ProfMariaRachel, o militante @blogdilma2010 e @mercadante. A destacar também a capacidade de multiplicação do Hugo Chavez, presidente da Venezuela. O tweet dele (@chavezcandanga) é um dos que mais produziram exposição para a candidata do PT.
Mas ela teve um problema importante: os 3 perfis que mais contribuíram para sua exposição o fizeram com posts neutros ou negativos. Foi o caso de @huckluciano (neutro), @alanbez, @LeiSecaRJ e @luiefs (negativos).

Foram perfis que geraram muita exposição para @dilmabr mas não eram apoiadores. Ou seja, na verdade não entram na conta da candidata e sim na dos seus concorrentes. Juntos, eles representam quase 3 milhões de impressões negativas. O @Rede45 (apoiador de José Serra) também teve muita influência negativa entre os multiplicadores do nome @dilmabr.
Luciano Huck (o perfil brasileiro com maior numero de seguidores, 2.420.942 perfis) teve influência direta na audiência dos 3 candidatos no Twitter, ainda que por motivos diferentes.

No caso de Marina e de Dilma ele teve uma “participação neutra” pois o post que deu muita exposição ao nome delas não era uma convocação. Ele apenas mencionava sua percepção sobre o resultado do debate do dia 30/09. Ele postou: "No nosso datatwitter....o @joseserra_ foi muito bem. @silva_marina e @dilmabr proporcionais. E o Plinio ganhou fãs + rebeldes. Boa noite."

No caso de José Serra a influência foi mais qualitativa, como já mencionado antes.
Há uma “contaminação” importante que vale para Serra e Marina: o que publicaram os perfis dos meios de comunicação no Twitter. Destaque disparado para o @G1 (o perfil de notícias da Globo.com). Quando escreveu sobre Marina Silva o G1 produziu 3,447,261 exibições. No caso de Serra foram 2,28 milhões. Dilma não teve esse adicional. Entre os 50 maiores influenciadores da sua exposição no Twitter não aparece nenhum meio de comunicação.
Obviamente esta não é uma análise que pretende fechar diagnóstico. Antes, é apenas um olhar focado sobre as interações dos eleitores – engajados ou não – no contexto das eleições em um momento bem específico.

Mas escolhemos o Twitter porque, inegavelmente, foi a rede foco desta campanha até agora. É dele que saem muitas pautas até para o off line. É por onde são feitas conexões para blogs, You Tube, Facebook e Orkut. É a rede mais visada da campanha. Além disso, foi adotado rapidamente pelos principais jornalistas e formadores de opinião do Brasil. E há o incontestável: nos últimos 4 dias houve uma grande mobilização nas redes sociais como até então não tinha acontecido na campanha. Isso contribuiu, certamente, no quadro geral, principalmente para a performance de Marina Silva no 1º Turno.

Agora é acompanhar para ver como as redes sociais entram na campanha no 2o. turno. Com esses acontecimentos, acredito que vamos ter boas surpresas.