sábado, 27 de novembro de 2010

A virada das Redes Sociais no Caos do Rio

O publicitário Carlito Maia disse um dia que nós não precisamos de muito, apenas um dos outros. E nas redes sociais esse lema é o próprio conceito e uma das razões de sua existência. Trocando dados e informações criamos causas que nos tornam melhores como pessoas e como sociedade. E foi isso que aconteceu nestes dias recentes de guerra entre os traficantes e a polícia no Rio de Janeiro.

Foi interessante observar que nos primeiros dias de conflito prevalecia o raivoso e o individual. A rede é hostil. Sempre digo isso. E essa não é uma constatação negativa. Hostil porque tem uma “fala direta” (vamos tirar dessa lista os que criticam por criticar, sem nenhuma visão construtiva dos fatos, os famosos “trolleiros”). A dinâmica é: avião atrasou, detona no Twitter. Não gosta da postura de alguém público? Tuita. Ilegal na rua? Fotografa e publica. Ou seja, com o poder de nos conectarmos praticamente em qualquer lugar, estamos sempre muito à vontade para mostrar nosso desassossego com alguma coisa. E essa hostilidade é boa porque as empresas e governos começam a ouvir isso e a entender como feedback para melhorar. Isso é precioso. Ouvir, neste caso, é verbo imperativo.

Sobre os problemas do Rio. No início os posts eram individuais (minha rua, meu medo, minha vida, minha cidade invadida, tá tudo queimando). E havia também posts vociferantes contra quem deveria ter evitado essa situação. Nesse caso, os governos e seus líderes. Mas esse movimento individual e personalista foi tomando outra forma e antes mesmo de acontecer a reação mais contundente da polícia. O caso da Vila Cruzeiro fez o ponto de inflexão girar de vez. Mas antes, já na quarta-feira, os posts com hashtags como #paznorio começaram a entrar no ranking entre os mais citados. E daí em diante cresceu. A própria “regulação” da rede funcionou. Aumentou o volume de quem criticava os que estavam veiculando informação não confirmada, ou seja, boatos. Subiu o tom de crítica aos individualistas e aos pregadores de pânico. Daí em diante a rede montou-se positivamente em torno do Rio: vamos sair dessa, vamos para cima deles, apoio à polícia e ao governo, é hora de dar a virada.

No final da tarde de ontem, dos 10 tópicos mais citados no mundo no ranking do Twitter, 5 eram sobre o Rio (bope, Cabral, vila cruzeiro, paz no rio, penha). Na hora da entrevista do Secretário de Segurança Pública transmitida com vídeos pelos perfis @segurancarj e @govrj, a hashtag #beltrame chegou, em 1 hora, a mais de 320 mil exibições na rede, tuitada por quase 190 mil pessoas. O @segurancarj fez Twitcam com o Secretário Edval Novaes pela manhã e às 20 hs. Vários perfis passaram a tuitar os eventos pela cidade, avisando sobre condições da cidade como o @caosrj que virou um agregador de notícias. Trocamos o pânico e a revolta individual pelo engajamento na causa coletiva. É o movimento e o momento que mostram a face mais bonita da rede: quando ela percebe sua capacidade de mobilização e de juntar forças.


Este artigo foi originalmente publicado no dia 27/11/2010 no @blogdonoblat

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ainda Público e Privado

Sobre o tema abaixo, escrevi um outro artigo, na minha coluna Weblogia, no Portal IDGNow: http://bit.ly/h7yEvg. Foi na época daquelas Twittcams de jogadores de futebol e do "piti" de menino mimado do jogador Neymar, no Santos.

O "Check In" da Privacidade nas Redes Sociais

(*) Coluna originalmente publicada no Blog do Noblat (http://bit.ly/eLaHTN) em 20.11.2010

As reclamações são freqüentes: a internet e as redes sociais estão acabando com a nossa privacidade.

O fato é que a cada dia temos mais recursos que, efetivamente, estão colocando o conceito de privacidade de pernas para o ar. Só para citar dois últimos: o Street View do Google e o próprio FourSquare. Esta, a rede de georreferenciamento via celular que, a partir de um clique (ou um “check in”), mostra todas as coordenadas de onde você está.

No entanto, o que parece que as pessoas não vêem é que privacidade em tempo de web tem muito menos a ver com as citadas redes sociais e aplicativos do que se imagina. O recurso mais inovador e determinante nesse tema continua a ser o humano.

As redes sociais nasceram com a “genética” da colaboração e da troca de idéias. De forma natural evoluíram para troca de informações sobre serviços e notícias.

Ao participar de uma rede você pode dizer absolutamente tudo sobre sua vida. Mas ter seus dados ali não está exatamente associado ao fato de você ter aberto um perfil em alguma delas. E aí a questão da privacidade fica mais complexa: ir para a rede pode não ser uma decisão sua.

Exemplo? Basta ter um filho Geração Z, ali pelos 12 anos, com perfil no Orkut e no Twitter e freqüentador de transmissões de vídeo ao vivo pelo web (as Twittcams). Com 3 posts ele pode deixar indexado no Google para milhões de pessoas o seu endereço, o menu do dia, a decoração da casa e, com o celular, indicar onde está comendo - talvez com você - um hamburger no shopping.

Isso pode significar muito para pessoas preocupadas com possíveis ladrões de informações em tempo real na internet e que estudam o comportamento das famílias para assaltar condomínios. E também é significativo para as marcas que querem entender e ouvir o que as pessoas comentam para criar relacionamentos mais relevantes com seus clientes.

Não consigo concordar com quem afirma que as redes sociais estão acabando com a privacidade. A privacidade é um conceito que se constrói em família, como se faz com a ética, honestidade e responsabilidade.

Os pilares de formação da Geração Z, que vai para as redes “contando” tudo sobre a sua vida – e por extensão, de toda a família – estão muito mais ligados a como ela participa da construção desses mesmos pilares dentro de casa. Incluindo discernir sobre como usar as redes sociais. É como estudar inglês ou ter disciplina para fazer o dever de casa.

Hoje é Twitter e Orkut e amanhã será qualquer outra rede com qualquer outro nome. Isso não fará diferença. O que não mudará é que temos um ambiente de colaboração gigantesco, generoso e, claro, também com caminhos ainda labirínticos. Algumas vezes não sabemos para onde nos levarão.

Mas, enquanto estivermos seguros da parte que nos toca, isso não é problema. É solução. Daí é melhor pensar em pessoas (e filhos, no exemplo citado) educadas nos princípios essenciais da vida. Antes de tudo, privacidade ainda é coisa da “rede social familiar”.

sábado, 6 de novembro de 2010

Dilma x Serra no Twitter e os Multiplicadores

No artigo que publiquei ontem em minha coluna no IDGNow (http://bit.ly/9JocKQ) vários dados ficaram de fora para não deixar o artigo mais longo do que já está. Mas algumas pessoas me perguntaram sobre como foi analisada a parte qualitativa. Como digo no artigo, evidentemente que não daria para ler 127 mil tweets que citavam as hashtags #dilmaday ou os 43 milhões com #euquero45.

Para fazer o estudo de caso na parte quali optei por usar como amostra de análise o que a ferramenta de monitoramento chama de “50 Highest Exposure”. São perfis de Twitter que possuem relevância e dão grande exposição a tudo que publicam. Eles possuem alto número de seguidores ou são retuitados por outros perfis que possuem alto audiência.

Prometi ontem no meu perfil de twitter (@rizzomiranda) dizer o quanto esses TOP 50 analisados no gráfico de pizza que está no artigo, contribuíram para a exposição. Os dados estão abaixo (em negrito):
  1. O #dilmaday, teve no total 127 mil tweets postados por 43 mil pessoas. A atividade de postagem alcançou 3,7 milhões de pessoas e foi repetida na rede 73 milhões de vezes > 16 milhões vieram dos TOP 50.

  2. No caso do #euquero45 foram 43 mil tweets postados por 24 mil perfis. O alcance foi 4,4 milhões e o número de impressões ficou em 24 milhões de vezes >> 10 milhões vieram dos TOP 50.

  3. Um dado adicional a analisar é que Serra teve muitos perfis com grande poder de influência (43%). No caso de Dilma isso foi mais diluído (22%).

Lembrando que os dados se referem apenas às duas hashtags mencionadas e apenas sobre a performance no dia 31/10. Em tempo: "exposição” quer dizer que um mesmo post pode ter sido visto por mais de uma pessoa. Ou seja, repetido. Alcance não, é perfil único.

Estou fazendo um estudo da campanha toda e em breve será publicada na coluna.

Importante dizer também que esse levantamento é absolutamente técnico e não partidário. Como jornalista minha missão é informar dados e levantar informações, indicando conclusões que elas permitam. No ambiente digital este tem sido um momento de grande e boa reflexão profissional, especialmente sobre o uso das redes nas Eleições 2010.