Este post tem a ver com uma conversa que tivemos aqui na FSB Comunicações.
Eu me transformei em uma pessoa de comunicação entrando pela porta do jornalismo. E entrei pela porta do jornalismo com um aspiracional ambicioso: eu queria uma profissão que me ajudasse a contribuir e fazer alguma diferença ao meu redor. Eu ainda tenho essa crença adolescente, mas descobri que você pode fazer diferença em qualquer outra profissão, de mil maneiras, e não apenas com o jornalismo que eu via na redoma do quarto poder.
Bem, o fato é que minha escolha foi pelo jornalismo e ela teve outros “influenciadores”. Um deles é uma foto de Claudio Abramo, na capa do seu livro “A Regra do Jogo” (http://bit.ly/9p9LTe). É um livro com depoimentos, reportagens e comentários que Abramo publicou ao longo da carreira. Através de sua trajetória jornalística, vivida intensamente no “campo de batalha” da política do país, a gente acaba tendo um retrato “não oficial” do próprio Brasil. A postura ética, técnica e profissional de Claudio Abramo foram minhas inspirações. Além do conteúdo do livro tinha também aquela foto. Olhando para o alto, para algum ponto desconhecido, sentado com uma máquina de escrever a sua frente, ele parecia “incorporar” uma inspiração (se isto fosse possível). É uma visão fotográfica de um ser “dominado”, por um momento, pela adrenalina criativa. É uma foto emblemática e inspiradora.
Vários jornalistas da FSB Comunicações tiveram essa sensação. De minha parte, tenho pensando muito nesse livro, nessa foto e tentado achar os novos “Abramo” em tempos de web: o compromisso com o fato, a notícia, a ética e a transparência, sabendo-se, de certa forma, “escritor” da história. Porque tenho pensado nisso? É que me preocupa o que ando vendo no mercado de trabalho de comunicação digital, hoje cheio de novas profissões com prevalência de muito tempo real, muita informação e um certo desprezo e até desconhecimento pela postura ética. E isso é crescente especialmente entre os novos entrantes do mercado de comunicação. É uma tendência. Não é uma generalização.
Percebo hoje um exercício exagerado e excessivamente descompromissado da “heteronímia digital” (crédito da expressão para a Paula Kamp). De certa forma há um perigoso vale-tudo que causa erosão na responsabilidade com o contar de história que os produtores de conteúdo possuem. Isso não é uma boa notícia. Ao produzirmos os conteúdos que circulam de forma perene pela internet - é fato... não dá para apagar 100% uma referência publicada no ambiente digital - precisamos ter consciência do seu impacto não apenas agora, mas na formatação do mosaico histórico. Vai me entender bem quem leu ou viu o filme que toca nessa tema: “1984” de George Orwell. É um pouco datado, mas ainda tem muita coisa a nos dizer. Mas exercitar esse equilíbrio requer transparência, credibilidade e compromisso com seu tempo. Características que o Abramo, citado, tinha de sobra. Com toda controvérsia possível. Afinal, as unanimidades são ficções de ditaduras e não de ambientes democráticos. Pensamos, aqui na FSB Comunicações, que os blogueiros e tuiteiros deste Brasil, com suas audiências pessoais, precisam ficar atentos a isso.
O autodidatismo e o acesso desenfreado às plataformas de conteúdos colaborativos estaria contribuindo para deteriorar certas posturas essenciais a um criador e difusor de conteúdo? O fato é que a desentermediação da informação colocou no ambiente colaborativo milhões de brasileiros dispostos a exercer com fluência todo o ciclo da informação. Desde a criação do veículo – blog, twitter, comunidades e grupos - até o “broadcast” para suas micro-audiências - estamos criando uma maravilhosa forma de conhecimento, valoração do consumidor, comportamento e exuberância do conhecimento. No entanto, no rastro quantitativo, há uma notória deteriorização da persona ética.
A heteronímia – ao contrário do uso criativamente vulcânico de Fernando Pessoa para expressar suas diferentes faces poéticas – tem surgido na versão digital como uma vazão de comportamentos erráticos, algumas vezes protegidos pelo anonimato, outros pelos conceitos distorcidos da liberdade permitida na rede. Eu não acho que vale-tudo na web. Quanto mais recursos e mais informações tivermos, maior nosso compromisso com os princípios do mestre Abramo. Desde a apuração correta da informação, do uso compromissado (e citado) das fontes até o frescor no estilo de contar uma história.
Na verdade, no final, nossa produção – nesse volume sufocante e excitante de exabytes informativos no ambiente digital - nada mais é do que a expressão clara e óbvia do nosso caráter e do jeito como enxergamos nossa relação com o mundo. Esta é uma campanha pela heteronímia digital criativa que a gente encampa aqui na FSB Comunicações.
Risoletta Miranda é Diretora-Executiva da FSB PR Digital (www.fsb.com.br), braço da FSB Comunicações. Formada em jornalismo, MBA Marketing COPPEAD/UFRJ, especializada em Planejamento Estratégico de Marketing e Comunicação Digital e uma das criadoras do Conceito de VRM – Virtual Relationship Management.
rizzo@fsb.com.br
www.twitter.com/rizzomiranda
quinta-feira, 8 de abril de 2010
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rizzolanda, o melhorpior: a internet supera as patrulhas, não apenas do jornalismo, mas de todos: e o ser humano não quer saber da verdade, mas do pitoresco, da fofoca, da infâmia. a liberdade é pra ser usada com responsabilidade, mas não será de hora pra outra que aprenderemos isso. pensar que agora a ciência tá viabilizando a leitura remota de pensamentos...
ResponderExcluirOlá...
ResponderExcluirGostei muito do assunto. De fato essa banalização, tem suas conseqüências expostas de forma bem clara em nosso dia-a-dia. Mas algo que vem junto com essa onda de conteúdo, são as formas de seleção, que os próprios usuários criarão. Nisso eu confio, em meio a tanta saturação e desordem, é natural buscarmos o equilíbrio.
Abs
Edson e Rodrigo, eu sempre falo que no começo e no fim é tudo sobre gente! E essa complexidade é que nos moveu para as grandes navegações, a lua, marte, as novas terras. Enfim, para o lugar criativo e para o desvendamento. Nesse caminho as tentações sempre aparecem e acho que é nesse ponto que a gente entende do que matéria moral somos feitos ;-) Talvez isso pareça muito utópico, pitoresco e até piegas... mas quem disse que os bobos não pensam?
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